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Uma noite, o fumo começou a invadir a exploração agrícola. Não foi nada agradável. As cinzas tombavam como neve», conta Guðni Þorvaldsson, que gere a exploração agrícola familiar no sul da Islândia, situada a apenas 8 km do vulcão Eyjafjallajökull. «Tivemos de recolher as ovelhas, os cordeiros e alguns cavalos. As ovelhas tinham de ser controladas de três em três horas porque estávamos na época de nascimento das crias. Estava tudo cinzento. Os pedaços de cinzas maiores atingiam 3 cm. As minhas pegadas ficavam marcadas nas cinzas como se fosse neve.
Guðni Þorvaldsson e o resto da população islandesa estavam admiravelmente bem preparados para a erupção maciça do vulcão Eyjafjallajökull, em Março de 2010. Um sofisticado sistema de vigilância com tecnologia global de determinação da posição por satélite mede continuamente os vulcões em actividade na Islândia. As leituras indicaram que a altura do vulcão estava a aumentar: sinal indubitável de actividade vulcânica no interior da montanha. Outras actividades de monitorização confirmaramno. Juntamente com um sistema eficaz de informação pública, isto mostra até que ponto a informação ambiental pode ser valiosa.
O resto do mundo talvez não estivesse tão bem preparado. Em poucos dias, os impactes tornaram-se globais, sobretudo devido à gigantesca nuvem de cinzas que se formou e aos seus efeitos no tráfego aéreo. As cinzas deslocavam-se a uma altitude entre 20 000 e 36 000 pés – a mesma gama de altitudes que os aviões de passageiros utilizam. O espaço aéreo europeu foi encerrado, impedindo, por sua vez, a realização de voos com destino à Europa a partir de lugares tão longínquos como Sydney. A Associação do Transporte Aéreo Internacional calculou que as companhias aéreas estavam a perder receitas no valor de 200 milhões de dólares dos EUA por dia.
Quase todos os sectores de actividade dependentes dos transportes aéreos foram afectados. No Quénia, as plantas, as flores e os produtos hortícolas cultivados para o mercado europeu apodreceram ao sol, com perdas de milhões de euros. Estimase que, nos primeiros dias após a erupção, dez milhões de flores, na sua maioria rosas, foram para o lixo. Produtos hortícolas como espargos, brócolos e feijão verde foram dados a comer ao gado em vez de acabarem nas mesas de jantar europeias. Os fornecimentos de atum fresco provenientes do Vietname e das Filipinas começaram a esgotar-se na Europa.
O estranho silêncio que se instalou nos céus europeus em Abril de 2010 chamou a atenção para a quantidade de tráfego aéreo que neles existe normalmente. As histórias sobre as flores e os legumes que apodreceram no Quénia recordam-nos de onde vem parte das flores e dos produtos hortícolas que consumimos. Na verdade, a erupção revelou claramente a conexão que existe entre alguns dos principais sistemas – artificiais e naturais – em que assenta a nossa sociedade globalizada.
A pegada ecológica é uma de várias medidas utilizadas para ilustrar as exigências que a humanidade impõe ao planeta. O conceito de «pegada» tem limitações, mas também é relativamente fácil de compreender: ele estima a área de terra e de mar necessária para fornecer os recursos que utilizamos e para absorver os nossos resíduos.
Em 2003, a Pegada Ecológica da União Europeia era de 2,26 mil milhões de hectares globais ou 4,7 hectares globais por pessoa. Em contrapartida, a área produtiva total da Europa era de 1,06 mil milhões de hectares globais ou 2,2 hectares globais por pessoa (WWF, 2007).
Se todos os cidadãos do mundo vivessem como os europeus, a humanidade necessitaria de mais de dois planetas e meio para fornecer os recursos que consumimos, absorver os nossos resíduos e deixar alguma capacidade para as espécies selvagens (WWF, 2007).
O Dia do Excesso assinala o dia do calendário em que o consumo de recursos ecológicos pela humanidade, nesse ano, equivale a tudo o que a natureza pode produzir em 12 meses. É o dia em que o nosso crédito colectivo acaba e começamos a pedir emprestado ao planeta.
Em 2010, a Global Footprint Network estimou que até 21 de Agosto a humanidade tinha gasto todos os serviços ecológicos – desde a filtragem do CO2 até à produção de matérias primas para a alimentação – que a natureza podia fornecer de forma segura para todo esse ano. Desde 21 de Agosto até ao fim do ano, as nossas necessidades ecológicas foram supridas pelo esgotamento das reservas de recursos existentes e a acumulação de gases com efeito de estufa na atmosfera.
Sabia que... Um cidadão europeu médio utiliza cerca de quatro vezes mais recursos do que um cidadão da África e três vezes mais do que um cidadão da Ásia, mas apenas metade dos recursos utilizados por um cidadão dos Estados Unidos, do Canadá ou da Austrália.
Tanto a «Pegada Global» como o «Dia do Excesso» são estimativas aproximadas, mas sabemos com certeza que a nossa procura de recursos naturais em todo o mundo aumentou bastante nas últimas décadas, principalmente devido ao crescimento da população, da riqueza e do consumo. O crescimento da população teve maioritariamente lugar nos países em desenvolvimento, enquanto os maiores níveis de riqueza e de consumo se registam nos países desenvolvidos.
Na Europa, mantemos o nosso défice ecológico – a diferença entre a nossa pegada e a nossa biocapacidade – importando bens e serviços do exterior das nossas fronteiras. Também exportamos parte dos nossos resíduos. Essencialmente, estamos a tornarnos cada vez menos auto‑suficientes.
Em consequência do comércio mundial crescente, uma percentagem cada vez maior das pressões e dos impactes ambientais causados pelo consumo nos países europeus faz-se sentir noutras regiões. Embora alguma dessa transferência se efectue entre os países europeus, grande parte ocorre fora da UE e para além da área de competência das actuais políticas da UE em matéria de produção. Isto significa que estamos a exportar os impactes do nosso consumo para países onde, muitas vezes, a política ambiental está subdesenvolvida, sujeitando efectivamente as populações locais e o ambiente a uma pressão extrema.
O consumo global está a causar impactes graves e irreversíveis nos ecossistemas globais: 130 000 km2 de floresta húmida tropical são desflorestados por ano. Além disso, desde 1960 que um terço da superfície agrícola do mundo foi abandonado ou esgotado devido à sobreexploração e à degradação do solo. *
Temos de tornar-nos melhores a equilibrar a necessidade de preservar o capital natural com a sua utilização para alimentar a economia. Para isso, é fundamental aumentar a eficiência com que utilizamos os recursos. Reconhecendo que as exigências que impomos aos recursos naturais são actualmente insustentáveis, necessitamos basicamente de fazer mais gastando menos.
É animador constatar que este é um domínio em que os interesses dos sectores ambiental e comercial podem estar alinhados: as empresas prosperam ou vacilam em função da sua capacidade de extrair o máximo valor dos factores de produção utilizados, tal como a preservação do mundo natural e do bemestar humano dependem de fazermos mais com um fluxo de recursos limitado.
A eficiência em termos de recursos é agora uma iniciativa emblemática da UE, um elemento essencial da estratégia de crescimento inteligente, sustentável e inclusivo até 2020. A eficiência de recursos combina os princípios de boa gestão empresarial com as boas práticas ambientais produzindo mais e reduzindo, simultaneamente, os resíduos. É como combinar uma dieta mais saudável com um regime de exercício físico, ao fim de algum tempo aprendemos que é possível fazer mais com menos.
* Para mais informações ver avaliações temáticas do SOER: consumo e ambiente: www.eea.europa.eu/soer/europe/consumption-and-environment
Os nossos padrões de consumo de comermos, andarmos de automóvel ou aquecermos as nossas casas, suscita pressões ambientais directas. De maior magnitude, porém, são as pressões indirectas criadas ao longo das cadeias de produção dos bens e serviços consumidos. Elas podem ser os impactes da exploração mineira ou do abate de árvores, da utilização de água para as culturas agrícolas, ou dos danos causados à biodiversidade local pela agricultura intensiva ou a poluição.
Enquanto consumidores, podemos influenciar, todavia, os nossos impactes ambientais, por exemplo comprando alimentos e fibras produzidos de forma sustentável.
Globalmente, a produção biológica e a «a agricultura de conservação» estão a conquistar popularidade e êxito. A Conservation Cotton Initiative é apenas um exemplo de abordagens de produção sustentáveis que diminuem os impactes nos ambientes locais.
A Conservation Cotton Initiative
A Conservation Cotton Initiative Uganda (CCIU) foi criada pela empresa de vestuário ético EDUN, a Wildlife Conservation Society e a Invisible Children para criar comunidades agrícolas sustentáveis no Uganda.
«A CCIU está estabelecida numa das zonas mais pobres do Uganda, a região de Gulu, que está a recuperar de uma guerra civil que deslocou milhões de pessoas. O programa CCIU ajuda os agricultores que estão a regressar às suas terras fornecendo-lhes financiamento, alfaias e formação para desenvolverem um negócio de algodão sustentável», explica Bridget Russo, directora de comercialização global da EDUN.
Os agricultores recebem formação para aproveitarem melhor os seus campos cultivando uma combinação de culturas alimentares, destinadas a suprir as necessidades básicas das suas famílias, e algodão, uma cultura comercial com procura a nível internacional. O programa CCIU já beneficia 3 500 agricultores e existem planos para aumentar esse número para 8 000 nos próximos três anos.
Esta colaboração visa melhorar as condições de vida das comunidades de África ajudando os agricultores a cultivarem «algodão de conservação» de forma sustentável.
For references, please go to https://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/sinais-2011/artigos/consumir-de-forma-insustentavel or scan the QR code.
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